Eu também. Durante os anos pratiquei diversas artes marciais tradicionais e fui assombrado pelos mesmos fantasmas: movimentos abstratos e evolução engessada. Técnicas que não faziam o menor sentido na minha cabeça. Mesmo no Wing Chun! E isso é frustrante!
Diante das minha frustrações prévias, prometi a mim mesmo cortar das minhas aulas técnicas, métodos e treinos que pra mim não faziam sentido e que deixavam tudo mais monótono. Decidi simplificar as coisas, sem perder a essência. Deixar tudo mais prático, mais dinâmico, mais objetivo!
A gente sabe que precisa fazer uma atividade física para o bem da nossa saúde. Porém, da mesma forma que "querer não é poder", "saber não é fazer". Sempre falta aquela motivação para ir. E mesmo pagando academia, inclusive antecipando vários meses, a gente não vai. E quando vai, chega naquele treino monótono, repetitivo e solitário (por vezes esquecido pelo instrutor). Claro que, a longo prazo, a recompensa é garantida: melhora da saúde, da qualidade de vida, da forma física... mas qual a recompensa imediata? É difícil para o nosso cérebro compreender o ganho futuro, ainda mais em uma atividade pela qual não estamos muito empolgados.
O ambiente padrão de academia geralmente é este: luz forte, música alta, muita gente, aparelhos lotados, pouca atenção dos instrutores... Realmente, assim eu não tenho motivação para o exercício, mas há quem goste.
Buscando uma alternativa, estruturei as minhas aulas em um ambiente tranquilo e discreto, onde não permito que se assista o treino; permanece somente quem vai treinar. Dessa forma, os alunos se sentem mais confortáveis para praticar, sem se preocupar com perturbações externas.
Outro aspecto importante é o número reduzido de alunos por aula. Priorizando a qualidade sobre a quantidade, consigo proporcionar atenção máxima à execução dos movimentos de cada aluno, potencializando a evolução e prevenindo lesões.
Praticar uma arte marcial não é somente um exercício para o corpo. Ao mesmo tempo em que se pratica, se desenvolve um novo conhecimento e se aprende uma nova habilidade.
Representando um treinamento de técnicas cuidadosamente organizadas em diferentes níveis, o método de ensino do Kung Fu segue uma linha de progressão lógica, onde a técnica aprendida hoje será a base para aprender a de amanhã.
O aluno vai gradativamente progredindo suas habilidades e alcançando novos níveis de acordo com seu desempenho. Quanto mais se empenha, mais rápida é a evolução e o aprendizado de novas técnicas.
Muitas vezes, fazer um exercício físico acaba se tornando uma atividade solitária e meio sem graça, em que você conta as horas para acabar logo.
Outro cenário é visto nos treinos de Kung Fu: aqui você não estará sozinho. Vai encontrar colegas comprometidos e entusiasmados, que te auxiliarão e motivarão a todo momento.
Na verdade, o que ocorre na maioria das vezes é que você vai encontrar nos colegas de treino um verdadeiro grupo de apoio. E assim, passará a fazer parte de algo muito maior do que uma turma que se exercita em conjunto. Você fará parte de um seleto grupo, que se apoia e que não deixa ninguém desmotivar.
Uma das preocupações que sempre tive foi: "esses movimentos que eu estou treinando funcionam?"
Hoje tenho certeza de que a resposta era "não" para a maioria das vezes. Isso não significa que há algo de errado com alguma modalidade ou professor, mas que boa parte das aulas por aí foca em outros aspectos (flexibilidade e alongamento, cardio, filosofia ou caminho de vida, manutenção da saúde...). Apesar de eu já ter visto "técnicas de defesa pessoal" sendo ensinadas que deixariam o praticante numa situação bem complicada.
A questão é que quando se fala em defesa pessoal, devemos deixar os filmes e a fantasia de lado e sermos mais céticos. Um aluno ingênuo, confiante numa técnica ineficaz, é um risco. Por isso, devemos ter consciência e responsabilidade com aquilo que é ensinado e com a sua verdadeira funcionalidade.
Eu já cansei de ouvir, ler e até mesmo repetir (no passado): "essa técnica funciona, mas é muito perigosa para testar no treino", ou "demora muitos anos para conseguir aplicar essa técnica, mas funciona". Se essas frases são verdadeiras, eu não sei. O que eu sei é que eu não sinto confiança numa técnica que não consigo testar no treino. E também não me agrada a ideia de praticar algo que eu só vou conseguir colocar em prática vários anos depois. Em termos de defesa pessoal, quanto mais rápido eu conseguir colocar a técnica em prática, melhor.
Por isso, sempre que posso, pego uma técnica para testar a funcionalidade numa lutinha com meus alunos mais antigos (mesmo que ela acabe não funcionando e eu levando a pior - ossos do ofício).
Isso me lembra outro aspecto: "não dá pra aprender a nadar no seco". Se você quer realmente aprender a se defender, um treino de luta é indispensável. Como você vai saber se defender de um soco se nunca levou um?! Num treino técnico, com o movimento ensaiado e predeterminado, com o colega permissivo e te auxiliando, a técnica é perfeita! Agora, quando o colega pode revidar e você não sabe como ele vai te atacar, a coisa muda de figura. E eu não tô falando em uma pauleira desenfreada. Um protetor bucal, um par de luvas e alguns rounds amistosos entre os colegas, sem se exceder na força e com o devido cuidado, já é o suficiente. Fazendo isso, não tenho dúvida de que as habilidades de luta e de defesa pessoal de qualquer aluno evoluirão astronomicamente. Nas minhas aulas, nenhum aluno é obrigado a participar desse tipo de treino, mas eu recomendo que participe (começando de maneira lenta e tranquila e aumentando o dinamismo gradativamente).